Luiz Carlos Pais
Tudo vale a pena se a alma não é pequena. (Fernando Pessoa)
Capa Textos Áudios E-books Perfil Livro de Visitas Contato Links
Textos
 
Aquidauana na história da imprensa


 
            Entre os jornais do início do século XX, no sul de Mato Grosso, estava A Razão, um dos primeiros que circulou em Aquidauana, impresso na tipografia de Antônio Alexandre de Barros. Esse semanário estava sob a direção do professor Jorge Bodstein Filho, que exercia o magistério em uma escola pública estadual de instrução primária para meninos. Alguns fragmentos de sua trajetória podem ser recuperados em jornais da época. Assim, temos a informação de que em edição de 3 de março de 1918, foram noticiadas as eleições gerais realizadas no dia 1º do mesmo mês, quando foi eleito Rodrigues Alves para a presidência da República.

            A imprensa da época mostra que se tratava de um órgão de difusão dos interesses da região sulina do estado, cuja identidade estava inserida na bandeira separatista. Assim, o seu diretor começou a enfrentar dificuldades, reação da política centralizada em Cuiabá. Nos meados de 1918, como consta no expediente da secretaria do governo, o professor Bodstein foi suspenso do exercício do magistério, por um mês, sob a alegação de que ele havia publicado críticas ao governo, “dando um péssimo exemplo aos seus alunos”, conforme publicado em O Matto-Grosso.

            O conhecido jornalista voltou a ser importunado outras vezes. O diretor geral da instrução pública, em portaria de 13 de outubro de 1919, voltou a suspendê-lo das funções públicas, pelas mesmas razões alegadas, no anto anterior. Desse modo, ao seguir sua linha combativa, outros jornais registraram a circulação de A Razão, entre 1918 até início de 1920, quando teve sua trajetória encerrada devido à destruição da tipografia em que era impresso. O jornal teria sido empastelado por supostos aliados da política situacionista. Uma detalhada reportagem sobre esse episódio está publicada no jornal cuiabano O Republicano, de 25 de abril de 1920, apresentando um veemente repúdio ao ato de violência sofrido pela pioneira imprensa aquidauanense.

            O fato provocou profunda indignação no sul do estado e acirrou ainda mais o sentimento separatista. O semanário de divulgava informações de interesse da então progressista região sulina. Uma tática de resistência foi então divulgar o ocorrido na imprensa do Rio de Janeiro, quando já estava em discussão a liberdade de imprensa. Um dos motivos alegados para interromper as atividades do combativo jornalista foi a suposta incompatibilidade entre o cargo exercido pelo seu redator no magistério público e as consideradas críticas publicadas nas páginas de A Razão.

            Mesmo com a destruição da pequena tipografia, como acontece no mito grego do “renascer das cinzas”, em 1923, foi lançado o primeiro número de A Gazeta do Sul, sob a direção do mesmo jornalista e professor, abrindo outro capítulo da história da impressa no Sul de Mato Grosso, associada ao longo movimento de constituição do atual Mato Grosso do Sul.
Luiz Carlos Pais
Enviado por Luiz Carlos Pais em 04/02/2017
Comentários