Sabores da infância
Entre as lembranças de minha infância, está o pirulito que minha avó fazia no fogão à lenha. Sabor intenso, emoção vibrante, formato de cone e o cabinho feito com bambu. Enrolados em papel manteiga, lentamente, enquanto ela contava histórias mágicas do seu tempo de menina. Açúcar cristal, suco de um limão, um copo de água e uma xícara de mel. Fogo brando e paciência para descansar a calda. Naquele tempo, não havia passado nem futuro, apenas a sabedoria de celebrar a plenitude do presente.
No mesmo armário de coisas preciosas, está o bolo de fubá de minha mãe. Caçarola de ferro coberta com tampa grande para colocar o braseiro em cima. Café passado no coador de pano e as canequinhas brancas de ágata. Experiência simples que preenchia o corpo e a alma. Naquele momento, não havia ansiedade, tristeza ou dúvidas. Mesmo com tanto trabalho, minha mãe arrumava tempo para fazer aquele saboroso bolo. Um pouco depois, vieram as jujubas coloridas da venda da equina, expostas no baleiro de vidro que tanto fascinava o olhar infantil.
Além dessas boas emoções, como condição de qualquer trajetória de vida, havia também o lado sombrio das lendas, dos preconceitos sociais e das histórias os lobos solitários que entravam na cidade para pegar criança arteira. Como o passar dos anos, vem a maturidade e outras lições que vão além dos sabores infantis.
Chegam os tempos de discernimento, quando se descobre que entre as coisas boas do passado, havia o lado escuro que nem sempre é fácil de falar; preconceitos, sombras e crenças que em nada dignifica o ser humano. Desse modo, entre o passado e o futuro, é preciso acreditar que é possível viver os sonhos da atualidade, com os pés no chão.
Luiz Carlos Pais
Enviado por Luiz Carlos Pais em 22/01/2025
Alterado em 23/01/2025